domingo, 20 de dezembro de 2015

The Rooftop Concert



Pensar que o Rooftop Concert foi uma improvisação e que foi interrompido pela chegada da Polícia é uma infantilidade. Ou pior, desconhecer por completo, o "espírito Beatles".
A brincadeira de tocar no telhado foi muito bem programada e realizada. Inclusive a chamada da Polícia, para dar os ares que eles (John) mesmo queriam: meliantes. Pois o Projeto era Get Back, o retorno. O retorno aconteceu principalmente em Hamburgo. Onde eles eram meros meliantes que tocavam à noite em um puteiro no cais, bem ao gosto dos marinheiros de todo o mundo: um puteiro a céu aberto.
Eles vieram de Liverpool, garotos razoavelmente bem-comportados para os padrões locais, de adolescentes pobres e razoavelmente meliantes. Roubavam discos, por exemplo. Nada de dinheiro para comprar.  Cachês então, nem pensar. Eram, na verdade, pequenas esmolas, para uns garotos que tocavam razoavelmente mau. Apensar de terem um carisma e uma vontade incrível. Mas o Amor não paga contas.
Em Hamburgo pegaram rapidamente o espírito: tocavam até a hora em que havia um maldito marinheiro bêbado. Para não correr o risco de levar uma cadeirada. Ou uma mesa. Ou o que houvesse para ser atirado. O cachê era ridículo. A ser dividido por quatro. Isso quando era pago e eles não recebiam nada. A razão: ah, o dono da buate não queira pagar. Quer motivo melhor?
E eles perambulavam durante a noite, nas parcas noite de folga, por aquela Hamburgo que de longe era feita para adolescentes ingênuos de Liverpool. E faziam das suas, coisas de adolescentes, obviamente irresponsáveis. Dentre elas, aliviar o bolso de algum bêbado desacordado. Ou quase. Para complementar o orçamento. E as inevitáveis brigas. Em uma delas, Stu levou uma pancada na cabeça. O que resultou em um hematoma subdural crônico. Que se manifestou apenas alguns meses após e o levou à morte. Quando ninguém mais nem mesmo se lembrava direito de quando havia acontecido. E nem sabiam também que tinha acontecido exatamente isso. Nem mesmo a Medicina sabia direito sobre isso. e eles eram garotos ingênuos, metidos a roqueiros, vindos da inexpressiva Liverpool.
Deixando a imensidão que aprenderam a respeito de tocar e se apresentar em público, aprenderam tudo de ilícitos e de uma vida adulta, pobre e irresponsável em uma excelente escola: o porto, principalmente estrangeiro. Longe de casa. Aparentemente impunes, por sua estrangeirice.
Não ficaram impunes. Foram expulsos do país. E, cada qual de uma maneira particular e vexatória, voltou a Liverpool. George demorou uns quatro dias, tendo dado a volta em metade da Europa, antes de chegar em casa. Primeira classe? Não, não. Viajando de favor, por esmola, escondido, ilegal, o que fosse. E, quando chegou em casa, chegou contando vantagens. Para justificar o "sucesso" da "excursão", aos pais. Aquele aprendiz de malandragem e música contava com os seus 16 anos. Razão inclusive da sua deportação: menor de idade, infrator, trabalhando ilegalmente no país e etc.
Essas foram razões suficientes para a conclusão óbvia: chega desse negócio de The Beatles. Isso não dá futuro. Vamos morrer disso! E morreu mesmo: Stu. Pete Best, como um menino mimado, "riquinho" para o padrão dos demais, obviamente desistiu. Afinal, ele apenas tocava na banda porque era o dono da bola e tinha que estar no time. Paul resolveu, por orientação do pai a procurar um emprego que lhe desse futuro e o que comer. E estudar, feito a um garoto que preste. George, o mais massacrado como resultado da viagem, desistia sem mesmo saber do que estava desistindo, a mando dos pais.
John era Beatles. Ele não podia desistir de si mesmo. Já havia queimado todos os seus navios. A escola perdida. A chance para continuar os sofríveis estudos, irreparavelmente perdida. Só lhe restava mesmo ser Beatles. Seja lá o que isso pudesse significar. Após amargar uma ressaca de uma semana da encantada tourné por Hamburgo procurou o Paul: vamos tocar! Ele havia conseguido uma agenda no Cavern. No dia anterior, ligou para Paul que estava em seu novo trabalho. Paul lhe disse que estava pensando, sobre as coisas, sobre o futuro, sobre Hamburgo e etc. John; nossa apresentação é às 12;30h. Se você não estiver lá, está fora! às 12h Paul lá estava, tendo dito no trabalho que estava doente e que não poderia trabalhar. O resto? Bem o resto já se sabe, de uma ou outra maneira.

O Projeto Get Back, imposto pelo sistema, serviria para isso. Retornar a isso. Como já não eram mais aqueles garotos, sofrendo na pele todos os infortúnios do mundo e pressionados pela mída, pelo show biz, pela responsabilidade da fama, do que representavam em bilhões aos empresários da musica e etc. o projeto se desnaturou por si. Diz uma máxima: todo mal traz em si a semente de um bem equivalente: a tentativa frustrante do espírito do Get Back levou à ideia de baixar as cortinas, contando ao mundo a longa  e sinuosa estrada percorrida pelos garotos, em busca do reconhecimento, fama, fortuna e tudo o mais: nascia Abbey Road, que contaria a História toda e, agora sim, chega de (The) Beatles.
A ideia de filmarem os garotos trabalhando dentro de sua casa, os estúdios, partiu de gente que estava ansiosa por ganhar bilhões a custa disso. Não foi deles. 
Eles tinham por hábito, gravar tudo. Tudo significa tudo. Tinha gravadores portáteis pessoais. Vai que no caminho de casa surge alguma coisa. Tinham gravadores. No estúdio estavam em casa. Nunca houve um "ensaio", nos moldes que todos acreditam ser. Não ensaiavam, criavam. Se necessário, repetidas vezes, uma infinidade de vezes. E o que estava feito, estava feito. Um brainstorm contínuo. Gravar tudo isso seria facílimo. Acontece que o tal Projeto Get Back não era gravar. Era filmar. E que assistir ao filme verá o grau de artificialidade, de verdadeira forçação de barra para filmarem.  Queriam filmar como eles eram naturalmente, mas o que resultou foi um filme sobre exatamente como eles não eram. 
Vivendo intensamente e intimamente, desde a adolescência, ralando, sofrendo e aprendendo juntos, havia um quê de cumplicidade em cada frase, em cada gesto, em cada olhar, em cada pensamento. No filme, o que aparenta é ser a união de quatro caras que foram "ensaiar" e gravar alguma coisa. Isso não era BEATLES. Nunca foi isso, nunca foi assim. 
Por outro lado, o grau de "profissionalismo" dos garotos era algo marcante e exuberante. Se querem um filme, aqui está o filme. 
E o fecho de tudo, tocar no telhado foi o encerramento de tudo. Agora sim, do jeito deles, marca registrada. Tocariam o que era preciso e bom, e necessário ao filme. Por coincidência, ao final disso, apareceria a Polícia, para melar a festa. Esse era o espírito. 
  
Garotos como esses não deixariam que um mero policial estragasse um projeto deles. Mas eles poderiam armar toda a situação, para que assim ficasse parecendo.
"(ºJº)"

   

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

The life in a day


In my life
When I was a little boy
I once had a boy or should I say he once had me
So This boy told me
I was great!

The magic of the music touching my soul seems to light the way
And open up the doors if you turn off your mind
Do you want to know a secret?
There’s nothing on earth we can’t do
And God is a concept by which we measure our pain
Because
Everybody has to be the weaver of his own sweat dream
And the word is love. All you need, please
Try to make it better each and every day. And do it!
Just keep on playing the mind games to the end of the beginning and say:  I want you!

 Like a UFO you came to me and I call your name
Won’t you come out to play?
There’s never a space in between the beat our hearts

Oh, boy!
Nobody told there’d be days like these… Help!

Bless you
Wherever you are
You are here, a real love: thank you, thank you, thank you.




Para comemorar o seu aniversário, dois desenhos de aprendiz, em grafite. Um sem os identificáveis óculos redondos. 
Uma Poesia, verdadeiro atentado aos direitos autorais, já que os versos são todos do próprio John. Meu mesmo, só a ideia e alguns conectivos necessários. Além da homenagem e agradecimento.


“(ºJº)”     2015, October 9th

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Ticket to a magical story

A história dos Beatles não tem fim. E não tem começo. Talvez por isso estou escrevendo sobre isso, cinquenta anos depois. Mas um cinquenta que não é depois, já que está embutido na própria estória, a que não tem fim. 
Os garotos tinham todos os ingredientes necessários para nunca dar certo. Chamados por alguém de "The Someone and the Somethings", já que não tinham um nome. Era a praxe da época, o nome "The X and the Y". Então John, timidamente arriscou um nome: Beatles. O dito cidadão ficou indignado: "e isso lá é um nome? Isso não significa nada. Não é nada!". Não é nada agradável ouvir isso de alguém a quem se pretendia pedir um autógrafo. E pediu. Talvez tenha sido esse o único autógrafo que ele pediu na vida. Por outros eram chamados de "The Five Guitars and the Nodrummer". Eram uma banda. Uma banda com cinco guitarristas e nenhum, nunca, um baterista. Menos mal que um deles acabou se perdendo pelo caminho. E sem contar também que o baixista não sabia coisa nenhuma de guitarra ou baixo ou qualquer coisa relacionada à música. Seu mágico dom: era amigo dileto de John. 
Com esse background, com esse belo portfólio restava passar tardes escrevendo cartas para agentes musicais, pedindo uma chance para serem colocados na lista de stars a se apresentarem nos shows de cinquenta atrações, tão comuns em Liverpool. No reply. Aliás, o relatado antes foi uma única vez em que um agente arriscou chamá-los para conhecê-los. O resultado foi o descrito, um fiasco total. 
Estímulo é tudo na vida. Depois das desastrosas andanças procurando uma oportunidade, chegar em casa, lar doce lar, e ouvir da tia Mimi: "muito bem, John! Tudo isso é muito bonito, muito lindo, mas jamais vai te dar dinheiro. Portanto, trate de arranjar um emprego!". Isso, dito pela pessoa que o sustenta não é também nada agradável.  
Outro recurso interessante era colar nos agentes ou em alguém que pudesse representar uma possibilidade de se apresentar em  público. E faziam isso com frequência. Mesmo que fosse, apenas para estar junto de alguém que pudesse representar uma chance. Houve alguém que estava reformando a garagem de casa para servir de bar e ponto de atração para os jovens, o que incluía música. Segundo o dono, seria um estrondoso sucesso, com apresentações de uma infinidade de bandas famosas, dinheiro e sucesso garantido! Só que, no momento, não há dinheiro para pagar para pintar e decorar a garagem. Vocês podem me ajudar? Sim, claro que podemos. E pintaram. E, como decoração, pintaram coisas, ideias que foram de pronto aceitas pelo grande futuro empresário.Era de graça. E no meio de toda aquela arte abstrata e comum, John desenhou um beetle. Ao final, perguntaram se eles também poderiam tocar. Ao que o empresário estranhou a pergunta: vocês têm uma banda? Sim, claro! Depois a gente vê isso. Obrigado pela ajuda, garotos! E então eles voltaram para casa, para ensaiar. 
Dando um grande salto na estória, os Beatles tornaram-se e eram conhecidos pelos músicos em geral, como a única banda que nunca ensaiava. Eles gravavam. Eternamente gravavam. Todos ensaiavam e ensaiavam, quando achavam que estava bom, iam para um estúdio gravar. Talvez a resposta esteja nisso: antes de tudo acontecer,  eles ensaiavam, ensaiavam e ensaiavam. E mais nada.
Afora todos esses componentes, havia uma coisa que agradava a todos. Aqueles garotos tinham um carisma inigualável! Se sempre havia um "não!" pronto a sua banda, era impossível se ver livre deles, não gostar deles. E eles sempre estavam por perto. Bastava que houvesse uma remota possibilidade de conseguir uma chance, lá estavam eles, na fila de músicos, esperando que alguma banda faltasse, algo inusitado ocorresse, para que pudessem se apresentar em público. Desde que providenciassem um baterista, claro!
 
13 02 2015