Após contar, minuto a minuto até às 7 da noite,
cheguei, agora sozinho, à casa do tal dono do disco. Não tinha lá essas
amizades com ele, mas fui logo dizendo: você tem o disco "dos The
Beatles" e eu quero ouvir. Eu não estava exatamente
"perguntando". A despeito da não muita amizade, ele também estava tão
alucinado quanto eu e fomos então para o quarto dele, onde tinha uma vitrola, uma
coisa de milionários, areia demais para o meu caminhãozinho. Pensamento típico
de quem não tem sequer um caminhãozinho. E ouvimos um monte de músicas. Eu
estava impressionado com a quantidade de músicas! Aquela que eu havia ouvido
antes tinha o nome de "Thank you girl". Que eu não tinha a menor
ideia do que significava. Eram ingleses, cantavam em inglês. Eu não sabia
que existia um lugar chamado Inglaterra e obviamente desconhecia por completo a
língua que eles cantavam. Mas cantavam bonito, cantavam gostoso, cantavam para
mim. Uma língua deliciosa aquela, que eu não entendia nada! E o colega foi
falando coisas sobre "os The Beatles", maravilhado como eu. Eles
tinham os cabelos compridos e cantavam alto, eles gritavam. Os gritos eu
entendia bem. Ouvimos várias vezes cada música. Repetíamos a música, sem ao
menos ter ouvido a "próxima". Até que eu ouvi uma música, que agora
eu já tinha até o nome ali escrito: This boy.
Diferentemente, This boy não tinha gritos
e nem era cantado alto: apenas um cara cantarolando algo muito bonito, muito
maravilhoso que me tomou por completo. Uma voz que me cantava alto na alma, voz
forte, mas um grito como que contido. Ele não estava cantando no disco, parecia
estar ali sentado e cantando para mim, exclusivamente. Ele, aquele cara, que
agora eu sabia como John Lennon sussurrava gritando algo para mim, chamando-me,
convocando-me para algo que ele mesmo não sabia exatamente o que era, mas que
me queria junto. Vem comigo! Tudo isso em uma língua que eu entendia
perfeitamente, muito embora desconhecendo em absoluto as palavras. E eu,
naquele estado que me encontrava de alucinação agora havia sido abduzido para
um outro universo.
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Ninguém está nem um pouco interessado em minha
vida, na minha história. Nem mesmo eu. Contei o meu primeiro contato com os
Beatles, com palavras e conhecimentos de hoje para retratar o sentimento de yesterday,
apenas para que você saiba que há milhões dessas histórias por aí, incluindo a
sua. Elas são todas peculiares a cada um, mas a essência é sempre a mesma: o
arrebatamento. Uma intimação que mais tarde seria reproduzida em um verso: I'd
love to turn you on.
E toda consequente Magical Mistery Tour é um
assunto à parte.
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This boy |
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As 210 músicas ditas "oficiais"
são aquelas que foram lançadas em seus 12 LPs. O melhor adjetivo para todas
elas: são músicas dos Beatles. Melhor definição e qualificação é impossível.
Assim como eu, o mundo gostou muito deles: são
cerca de dois bilhões de discos vendidos.
Depois de ouvir atentamente a cada uma delas por
mais de uma vez, bem mais de uma vez, o que me fascina continuamente são os
"takes", gravações das músicas em seu processo evolutivo de criação.
Nenhuma viagem lisérgica é mais alucinante do que ouvir cada um desses takes.
Cada um. E eles são milhares. Caso você tenha MAIS algum, mande pra mim, como
presente.
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"This Boy"
Lançada na Inglaterra em novembro de 1963, como
lado B de "I want to hold your hand". Em setembro de 1963 foi
feita uma gravação ao vivo para a BBC, que só a apresentou em 18 de abril
de 1964. Como o auditório comportava apenas cerca de 400 pessoas, mais de
dez mil alucinados ficaram do lado de fora. Uma histeria coletiva que recebeu o
singelo nome de Beatlemania.
Apresentada ao vivo em 16 de
fevereiro de 1964 na segunda apresentação no Ed Sullivan Show em Miami, nos
EUA. Foi a apresentação ao mundo do FabFour, fenômeno que tem o seu próprio
livro de recordes.
Parabéns,
John!
This
boy wants you back again
09.10.2013